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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

No Lapso do Tempo - 4

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Escuta.

Recorda as travessias de quem parou o tempo, recorda os sorrisos que transgrediram as orações sufocantes de quem chora os seus mortos, recorda os sorrisos que levaremos nos lábios no nosso último suspiro, como se fora vingança intima do choro e o grito que nos traz ao mundo, ao primeiro ar depois de tantas luas nas águas, nessa placenta que nos trouxe ao mundo e nos leva de volta, dessa terra que nos haverá de resguardar, que um dia será violada por caminhos, estradas e vias rápidas, que atormentarão o sangue da nossa terra, do barro que nos moldará, das videiras que serão enxertadas de vez, como de vez será enxertada a palavra do filho desse criador, talvez desorientado, talvez rogando por nós, filhos das cinzas que se espalharão pelo ar, prisioneiros da carne que transporta o nosso corpo ansioso, revoltado, desorientado com o tempo, desorientado pelo tempo que nada significa, que nada transpõem, que nada devolve.


[texto 2004, imagem 2006]

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