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Sinto muito, mas já não sinto nada.
Aguardo apenas o fim das novenas para abandonar o meu exílio que não me exijo perpetuar. Deixarei este nevoeiro cumprir os seus dias para que os meus passos possam cumprir o seu. Há muito que o aguardo, em silêncio, que esse caminho fique livre da geada, esse silêncio que já não conta, já não faz parte dos murmúrios que o teu chão traz. Deixarei, deixarei cada objecto onde o encontrei, quando cheguei ao teu pouco passo adentro, deixarei
O que não soube deixar intacto, ainda que conte devagar os dias que faltam para esse céu se enfeitar da chuva que me abençoará, não tenciono abandonar o meu silêncio neste nevoeiro que tinge estranhamente esta forma estranha de me abandonar.
Sinto muito,
Mas o pouco que resta de mim o pouco me prende a ti, e mesmo desse pouco já quase não resta nada. Entrei no jogo que apenas sei perder, entrei nessa bússola desorientada sem querer e já quase não resta nada.
Se perguntarem por mim, diz que fugi, que morri, que parti para outro lugar, outro corpo, outra terra inteira dentro de mim, e para e por mim, porque só assim sei que continuarei a viver…
texto 2004, imagem 2011
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