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«Depois abriu a cristaleira e tirou os vidros todos cá para fora. Lavou e limpou copo por copo, olhando-se através da transparência. Muitos deles nunca tinham servido. Anos e anos ali dentro da cristaleira, alinhados nas prateleiras, passando de avó para mãe e da mãe para ela, sempre com a mesma recomendação: «cuidado, é cristal, e o cristal é muito frágil!». Lembra-se de há muitos anos, ela ainda era tão criança!, ter pedido à mãe para pôr os copos na mesa, de um dia em que havia festa, qual festa é que já não se recorda. Mas a mãe voltou a dizer: «o cristal é muito frágil, por isso estes copos não são para andar a uso». Engraçado. O cuidado que se tem com os objectos, com os copos de cristal, por exemplo, porque são frágeis, podem quebrar-se. E o pouco cuidado que se tem com as pessoas. Nunca se lembra de ter ouvido alguém dizer: «cuidado, é uma pessoa, e as pessoas são muito frágeis, e não podem andar a uso».»
em Às Dez a Porta Fecha, Alice Vieira
[imagem: 2012, Minolta Dimage Z3]
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5 comentários:
Truly amazing!
cierto! qué frágiles las personas
saludos
E, os homens foram feitos para os cristais ou os cristais para os homens? - Sim, ninguém se pergunta da fragilidade humana. E poucos são os que se dão a celebrar, com o que tem de melhor na cristaleira, essa criatura tão frágil que é o Ser Humano - que passa, e deixa os cristais para trás...
O texto é magnifico e muito tocante. De facto seria muito importante que cuidassemos mais da fragilidade das pessoas, talvez se propagasse em efeito onda e o mundo fosse melhor...
beijos amigo
cvb
the light in this photograph is so very important. this is funny, leonardo, you just came and saw the photo of my silhouette. the light off the glass reminded me of this and then the words! my god, the words! the comparison of care of glass to person! my heart hurts and yet is deeply satisfied in this. beautiful. thank you))
xo
erin
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